PEÇA BARATA
Em temporada com o espetáculo solo “Peça Barata”, Gabriele Paula transforma espaços em São Caetano do Sul em picadeiro para divertir e encantar ao dar vida à palhaça Binha.
Tendo a natureza como aliada cênica, a artista constrói uma dramaturgia que deixa de lado as convenções e faz do riso uma ponte para o encontro e o afeto com sua figura circense profundamente humana.
Criada pela Cia. ABC Clown e com direção de Rondinelly Lima, a apresentação conquista olhares cumplices da plateia e também gargalhadas com as cenas cômicas e as habilidades físicas da palhaça com as pernas de pau e outras surpresas.
Sinopse
Uma perseguição se instala no quarto. É a palhaça Binha atrás de uma barata que se escondeu dentro da sua cômoda. Durante a caça ao inseto, acaba tirando da gaveta diversos objetos que estavam ali há tempos e acaba se encontrando consigo mesma.
Em entrevista ao Grande ABC Cultural, a atriz e o diretor detalham a concepção do espetáculo:
A ideia nasceu em 2021, durante a pandemia. Uma crônica da drag queen Lorelay Fox, em seu podcast, e o livro “A Paixão Segundo G.H”, de Clarice Lispector, serviram de referências.
“Refleti o quanto uma barata pode ser capaz de mexer com as estruturas de uma casa e, por consequência, também com as estruturas emocionais de uma pessoa. Tive um impulso cênico e escrevi um esboço de roteiro, onde uma barata entra no quarto, depois no móvel e deixa a Palhaça incomodada, sendo obrigada a sair do seu comodismo para eliminar o inseto”, relembra Gabriele Paula.
A partir daí, o roteiro virou um projeto envolvendo habilidades circenses e comicidades, como o jogo com o público, equilíbrio (perna de pau) e música (acordeon).
“Iniciamos um processo de criação da dramaturgia a partir de improvisos em sala de ensaio. A Palhaça Binha e eu trabalhamos juntos desde 2018, na Cia. ABC Clown, mas sempre com ambos em cena. Dessa vez, o desafio foi construir um solo dela comigo na direção e acredito que o resultado foi bem interessante. O meu desafio enquanto diretor de palhaçaria foi gerar provocações cênicas e abrir um espaço para a Binha afirmar sua identidade e características”, explicou Rondinelly Lima.
A arte mais perto do público
Gabriele mencionou que o espetáculo foi pensado para acontecer em formatos diversos: teatros, espaços não convencionais e rua. “Entretanto, a palhaçaria em espaços abertos funciona de uma forma muito orgânica, uma vez que a palhaça, quando está próxima do público, consegue estabelecer uma relação mais íntima com a plateia e um jogo mais dinâmico”.
Complementando o raciocínio, Rondi reforçou que na palhaçaria, naturalmente, há a necessidade de incluir a plateia dentro do jogo cênico, seja na rua ou em um teatro fechado. “Sendo assim, a ‘Peça Barata’ pode transitar entre esses dois mundos com tranquilidade. A diferença é que a rua é um espaço mais democrático, pois qualquer pessoa pode parar e ver o espetáculo, muitas vezes, pessoas que nunca foram ao teatro. Então, cabe à Palhaça Binha trocar com esse público do início ao fim do espetáculo. E isso ela sabe fazer muito bem”.

Graça nas alturas
“Os números de habilidade foram pensados para compor a dramaturgia dentro da fábula da Palhaça Binha atrás da barata. O treinamento da perna de pau, especificamente, foi realizado pela Karen Nashiro, especialista nessa habilidade circense”, comentou Rondi.
Riso acessível
“A tradução em Libras em eventos artísticos não deveria ser algo extraordinário e sim ordinário, ou seja, algo comum”, avalia Gabriele que inseriu o recurso de acessibilidade em todas as apresentações da temporada.
“A Mari (Mariana de Freitas) é uma intérprete de Libras excelente. Já trabalhamos juntas em outros projetos e ela tem muita delicadeza e preocupação com o trabalho. Estudamos o vocabulário do espetáculo por meio da dramaturgia e também realizamos ensaios com foco na tradução. Ela se preocupa com o figurino e a ludicidade da interpretação. Durante o projeto também fizemos uma formação com a Mari, envolvendo a equipe técnica e artística dos dias de apresentação, para que todos estivéssemos preparados para diálogos simples em Libras, durante a circulação do espetáculo”.
Um respiro para a arte independente
O projeto da “Peça Barata” foi um dos contemplados em 2024, em edital em São Caetano do Sul e envolveu em torno de 20 profissionais na produção. “A Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) foi fundamental para o fomento de produções artísticas e culturais no ABCDMRR (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), uma vez que as sete cidades são carentes de políticas públicas na área da Cultura”, pontuou Gabriele.
“A PNAB é fundamental, pois cumpre uma lacuna das políticas públicas culturais locais. Possibilita aos artistas executarem seus projetos de forma completa, desde a etapa de gestação da ideia, passando pelo ensaio e, finalmente, se materializando no produto final. Neste projeto ainda pudemos pensar na formação de público, realizando quatro oficinas gratuitas de palhaçaria, com mais de 100 participantes, em diferentes pontos do município”, enfatizou Rondinelly.
“Em contrapartida aos recursos de incentivo recebidos, a circulação da peça também está sendo realizada com apresentações gratuitas, sendo três abertas ao público e três exclusivas para instituições públicas de ensino”, completou Gabriele.
Mais sobre Gabriele Paula
Atriz formada em teatro. Professora com licenciatura em teatro, pela Unesp (Universidade Estadual Paulista). Pós-graduanda em Gestão de projetos culturais, pela USP (Universidade de São Paulo). Professora das Oficinas Culturais de Mauá e do PRONATEC (Programa nacional de acesso ao ensino técnico e emprego). Iniciou seu interesse pelas máscaras teatrais durante o curso técnico e buscou formações livres em palhaçaria por meio de instituições e artistas-pesquisadores, tendo a intervenção urbana como sua principal escola de estudo da linguagem. É co-fundadora da Cia ABC Clown com Rondinelly Lima. Como grupo participou de festivais, como a Bienal da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Salvador. Também é palhaça do espetáculo-duo “Irmãs Brothers em: o engasgo!”, da Híbrida Companhia. Em “Peça Barata” (2025), estreia seu primeiro solo, dirigido por Rondinelly Lima.
Mais sobre Rondinelly Lima
Ator, palhaço, professor e diretor de teatro. Formado em Teatro, pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul, com Licenciatura em Arte – Teatro, pela Unesp – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e Especialização em Direção Teatral, pela FPA – Faculdade Paulista de Artes. Realizou estudos em Palhaçaria, pela Escola dos Doutores da Alegria e em Teatro de Rua, pela ELT – Escola Livre de Teatro de Santo André. É professor de teatro concursado na EMARP – Escola Municipal de Artes de Ribeirão Pires, onde fundou o Laboratório de Pesquisa Teatral em Palhaçaria, em 2022. Integrante da Cia. ABC Clown, na qual atua como ator e diretor.

Peça Barata, com a palhaça Binha
Data: 21 de setembro de 2025 (domingo)
Horário: 11 horas
Local: Parque Província de Treviso (Praça Comendador Ermelino Matarazzo, 83 – Fundação – São Caetano do Sul – SP)
Data: 28 de setembro (domingo)
Horário: 16h
Local: Teatro Real (Rua Ângelo Ferro, 20 – Nova Gerty – São Caetano do Sul – SP)
Ingresso: grátis
Duração: 50 minutos.
Acessibilidade: tradução em Libras
Informações: Instagram: @cia.abc_clown
