PALAVRA E SOM | Entrevista com o diretor Bruno Souza

PALAVRA E SOM | Entrevista com o diretor Bruno Souza

Com uma superprodução em cartaz em São Paulo, o diretor, ator e produtor andreense Bruno Souza conversou com exclusividade com o Grande ABC Cultural.

Na entrevista, compartilhou sua vasta experiência dentro e fora dos palcos no Brasil e no exterior, detalhou sua visão sobre o apoio cultural na região e deu pistas de novidades que estão a caminho.

 

A Bela e a Fera - Bruno Sousa - Palavra e Som - Grande ABC Cultural

A vocação se revela

Se você estivesse entre os convidados dos primeiros aniversários de Bruno, com certeza, teria sido testemunha de seus passos iniciais na arte. Não havia como escapar. Encenar para a plateia familiar era uma exigência que o menino de três anos fazia para que a sua festa pudesse ser realizada. “Se não tivesse um palquinho para eu fazer um show, para me apresentar, nada ia acontecer. Então, era vocação mesmo”.

O dom artístico, como se viu, apareceu desde cedo, mas Bruno também se empenhou em aprimorar cada um seus talentos.

O currículo dele é algo que precisa ser olhado com algumas pausas para não cansar porque inclui muito, muito estudo e muito trabalho. A lista é realmente extensa.

“Eu comecei tudo em Santo André, minha carreira vem daqui. Comecei pela Escola Nacional de Teatro (ENT), graduei na FAINC em Educação Artística, fazia piano, sapateado americano. Enfim, fui dando uma percorrida por tudo”.

O contato com o teatro musical aconteceu por volta dos 14 anos, quando entrou para fazer teatro profissional.

 

A Bela e a Fera - Bruno Sousa - Palavra e Som - Grande ABC Cultural

 

Maluquice que deu certo

Para a família de Bruno, a opção pela carreira artística foi vista com certa estranheza. Ainda assim, ele jamais impedido de seguir seu sonho.

“Minha mãe comprou todas as minhas brigas, meu pai achava maluquice. Eles acabaram aceitando, não me boicotaram em momento algum. Sempre tive o apoio financeiro dos meus pais para qualquer coisa que eu quisesse fazer até que consegui ganhar dinheiro com meu trabalho e já comecei em um grande espetáculo”.

 

A Bela e a Fera - Bruno Sousa - Palavra e Som - Grande ABC Cultural

 

Fascínio pelo musical

“Eu nunca consegui fazer somente teatro. Porque fazer teatro musical é aquela história, a gente dá o texto e falta alguma coisa, aí o corpo dança para poder representar. Quando o corpo não consegue expressar tudo junto com a fala, a gente canta. Então vira um complemento. Para mim, o teatro musical é a área mais importante em que eu consigo colocar o canto, a dança, a interpretação juntos em um mesmo projeto”.

Com direção de Billy Bond, integrou o elenco de três musicais infantis da Broadway, “Branca de Neve e os Sete anões”, “A Bela e Fera” e “Cinderela”.

“Eu sou muito feliz como ator porque consegui percorrer todas as áreas, passei por televisão (na Globo fez parte dos programas “É de Casa” e do Lázaro Ramos), fiz novela (“Cúmplices de um Resgate” e “Carinho de Anjo”, ambas do SBT) comerciais, dublagens. Então, consegui me realizar como ator no sentido artístico.”

 

Novos rumos sem se afastar da arte

Após longas turnês passando meses longe de casa com a rotina teatral, o cansaço apareceu e foi nesse momento, aos 24 anos, que Bruno mergulhou no universo da produção de shows, tendo no portfólio trabalhos com artistas como Elza Soares, Ana Carolina, Isabela Taviani, Maria Gadú, Maria Rita, entre outros.

O gosto por produção foi se fortalecendo e, há 10 anos, deu origem à “Palavra e Som Entretenimento” produtora especializada em espetáculos musicais infantis, que ele comanda no Grande ABC, empregando mais de 40 colaboradores diretos.

Entre os trabalhos de destaque está “A Bela e a Fera” que esteve em turnê por diversas cidades do Chile durante dois meses e, atualmente, está em cartaz em São Paulo.

 

A Bela e a Fera - Bruno Sousa - Palavra e Som - Grande ABC Cultural

 

Maravilhas made in Brazil

A oportunidade de atuar e levar sua produção para outros países permitiu ao Bruno Souza traçar um paralelo sobre o mercado de trabalho e excelência artística entre o Brasil e os locais visitados.

A escassez de mão-de-obra especializada no exterior (tirando Nova Iorque que é o grande centro de teatro musical) foi um dos pontos que chamou a sua atenção.

“O brasileiro tem mania de achar que tudo que é americanizado, franqueado é melhor do que o que é feito aqui. Nós somos 100% capazes de executar o que o americano faz com muita excelência também. Então, quando a gente leva um produto daqui, como foi o meu caso, o público de fora fica encantado. Eles não acreditam que uma pessoa consegue cantar, colocar a perna atrás da cabeça, dar 10 rodopios e atingir uma nota mais aguda no piano”.

 

Sem descanso

A pandemia, como bem se sabe, abalou de forma inimaginável o segmento artístico e todo mundo precisou se reinventar como era possível.

Pouquíssimo tempo antes dessa reviravolta, em janeiro, Bruno Souza havia acabado de investir uma alta quantia para montar o espetáculo “João e Maria”. Era preciso encontrar uma saída e continuar trabalhando.

Quando as primeiras peças teatrais começaram a ser apresentadas em formato drive-in, ele viu ali uma alternativa para manter sua produtora em ação.

Percorreu diversos estados brasileiros e realizou mais de 30 sessões atingindo um público de mais de 100 mil pessoas.

“Fui produzindo um show atrás do outro. Não fui beneficiado por nenhuma lei de incentivo, nem pelas leis de Santo André, nem pela Aldir Blanc”.

 

A Bela e a Fera - Bruno Sousa - Palavra e Som - Grande ABC Cultural

 

“A Bela e a Fera – Um Musical”, de Bruno Souza

Montar “Bela e a Fera”, um espetáculo grandioso, traz alguns desafios por conta das pessoas já conhecerem a narrativa escrita por Madame de Beaumont. Ao mesmo tempo que não dá para inovar demais, fugir de algumas particularidades, é preciso ter algum detalhe que chame a atenção.

“A ‘Bela e a Fera’ é um produto muito atípico. Não é restrito a uma idade, a crianças de até 10 anos. Porque tem gente que casa com a música da Bela, gente que faz festa de 15 anos com a música. Se eu ficar em cartaz 30 anos eu vou ter plateia. O que eu tentei tirar da história e do contexto que é Disney e trazer para a realidade do conto original. Porque a Bela tem cinco irmãos, então vem de outro contexto diferente do que a Disney apresenta pra gente e isso é um diferencial”.

Conhecendo bem as características do público infantil, Bruno investiu em ‘sensações reais’ por meio de recursos tecnológicos.

“Se está nevando em cena, neva também na plateia, se tem cheiro de rosa, a plateia vai sentir cheiro de rosa, se tem faísca no palco, tem na plateia. É pra ter essa interatividade, o público se sentir dentro da história.”

Sobre os desafios de montar o espetáculo, Bruno releva que as preocupações foram a de encantar e o cuidado em como tratar a criança, porque não adianta apenas fazer um produto bonito.

“‘A Bela e a Fera’ nos dias atuais sugere um olhar para o interior das pessoas, que a aparência não importa nada e o que importa é o que está dentro de todo mundo. As pessoas saem tocadíssimas do show, porque as músicas emocionam, a história emociona. A reviravolta da Fera se tornando príncipe e revendo os atos que ele cometeu de erro no passado”.

 

A bela da arte x a fera da falta de incentivo

Sobre a temporada em São Paulo, Bruno Souza destaca a emoção após as primeiras apresentações. “O Teatro Liberdade deu bastante repercussão na mídia. O espetáculo está lindo e gente está bem feliz com o resultado de tudo”.

Estar em cartaz em um teatro na capital paulista, à primeira vista, pode parecer uma grande conquista para uma produtora de Santo André e, realmente, não deixa de ser.

Demonstra com clareza os grandes talentos que temos aqui nas sete cidades. No espetáculo produzido pela Palavra e Som, muitos bailarinos (do Studio Corpore Sano) e a coreógrafa Daniela Simonassi são de Santo André.

A questão aqui é que muitas vezes a oportunidade e a receptividade pela arte produzida na região chegam com mais abertura e acolhimento vindos de fora e isso transparece no desabafo do Bruno.

“Sinto muito a falta da Cultura de Santo André, dos teatros de Santo André. Eu tenho uma produtora aqui e tenho que ir para o Teatro Liberdade, um grande teatro em São Paulo. Estamos em um teatro renomadíssimo em São Paulo e aqui temos um que é tombado, que foi feito por um arquiteto maravilhoso em Santo André e está fechado há dois anos e meio, em reforma”.

 

Produções a caminho

Como uma agenda que tem sempre alguma obra sendo planejada ou em execução, Bruno Souza dá um pequeno spoiler do que teremos para ver nos palcos em breve.

“Não posso dar detalhes, mas será uma novela que fez muito sucesso na década dos anos 90 e que foi adaptada para o formato de teatro musical, com Thalma Bertozzi e Solange Castro Neves”.

A estreia está prevista para o segundo semestre deste ano. Alguém arrisca um palpite?

 

Enquanto isso é hora de conferir “A Bela e a Fera – O musical”.

https://grandeabccultural.com/a-bela-e-a-fera-musical-encanta-com-efeitos-especiais/

 


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