Fusões culturais com Xaxado Novo
A riqueza da música regional brasileira ganhou um espaço de destaque no trabalho do grupo Xaxado Novo que se apresentará no Sesc Santo André.
A banda é formada por Davi Freitas (violão e voz principal), Felipe Gomide (rabeca e voz), Marcus Simon (percussão geral e voz), Bruno Duarte (davul, surdo e voz) e Eliéser Tristão (souzafone).
Além de dar ênfase ao som, o grupo tem como característica embarcar em explorações por diversas localidades do Brasil e do exterior.
A ideia é conhecer a fundo os mais variados aspectos e elementos que deram origem às tradições culturais do país.
O resultado sonoro é incrível.
Grande parte do que eles trazem na bagagem pode ser conferida nas apresentações que mesclam um novo xaxado com relíquias do cancioneiro brasileiro.
No show no Grande ABC, o Xaxado Novo mostrará um repertório com canções do álbum “Sertão Cigano” e também do disco autoral.
Em entrevista exclusiva ao Portal Grande ABC Cultural , o grupo Xaxado Novo traça um panorama da carreira e antecipa novidades:
Grande ABC Cultural – O que mais na cultura nordestina fascinou vocês a ponto de nortear o estilo musical do grupo?
Xaxado Novo – O interesse e a pesquisa pela música regional brasileira, não só a nordestina de raiz, foi algo que uniu o grupo e aos poucos foi se transformando em paixão.
Os ritmos contagiantes e animados do forró fazem todo mundo dançar e refletem bem a energia e a positividade do povo nordestino que descobre na arte uma maneira de superar as dificuldades da vida.
Como também desenvolvemos uma linha de pesquisa na música cigana e oriental com outro grupo chamado Orkestra Bandida, no qual alguns integrantes fazem parte, foi possível identificar também diversos elementos musicais semelhantes entre a música do oriente islâmico com a música nordestina.
GABC – Para esse trabalho artístico de resgate da música tradicional do Nordeste, como vocês fizeram a escolha dos instrumentos e quais são eles?
XN – Na formação original do grupo optamos por utilizar rabeca, violão, zabumba, triângulo, caixa, pratos e outros acessórios de percussão.
Logo no primeiro ano substituímos a zabumba pelo davul, que é de origem oriental e é utilizado na região do Leste Europeu, considerado o ancestral da zabumba brasileira.
Incorporamos também o surdo de samba, para suprir o som grave que faltava.
E nesse ano de 2017, para dar ainda mais reforço na região dos graves e também somar na parte melódica, adicionamos mais um integrante no grupo para tocar o souzafone, que é um instrumento de sopro da família da tuba.
GABC – Não satisfeitos em apenas em tocar os sons do Nordeste, vocês partiram para algumas imersões musicais visitando diversas localidades nordestinas. Estar nesses locais trouxe que tipo de impacto ao trabalho do grupo, o que agregou às apresentações pós-viagem?
XN – Realizamos viagens de imersão na cultura do sertão nordestino em cidades como Exú, Serra Talhada, Caruaru, Crato e Juazeiro do Norte, para conhecer mais a fundo não só os ritmos nordestinos, mas tudo que envolve essa musicalidade tão rica e encantadora.
Entrevistamos mestres rabequeiros, sanfoneiros, bandas de pífano, cordelistas e xilógrafos.
Todo esse contato que tivemos, fruto de nossas pesquisas, ajudou a dar sentindo ao nosso trabalho e a nortear o estilo do grupo.
Um cordel também foi escrito pelo rabequeiro do grupo Felipe Gomide, que narra todas essas aventuras do Xaxado Novo no Sertão.
WABC – A banda já teve a oportunidade de tocar ao lado de outros renomados artistas que também têm foco na difusão da cultura nordestina. Como foram essas experiências?
XN – Em 2014 o grupo realizou um show no Sesc Santana em São Paulo, comemorando um ano de formação do grupo, ao lado da Banda de Pífanos de Caruaru, que comemorava 90 anos. Se apresentar com esses mestres foi de uma emoção indescritível.
Conhecer Seu Sebastião Biano, com seus atuais 98 anos de vida, tocando e contando histórias incríveis de sua vida, nos deu uma motivação enorme para seguir em frente com o nosso trabalho musical.
Esse ano tivemos a oportunidade de tocar com o grupo Falamansa num trio elétrico, pela Virada Cultural de São Paulo.
Ficamos muito lisonjeados com o convite e nos sentimos bem acolhidos por essa banda tão importante na história do forró no Brasil.
Ainda em 2017, tivemos a honra de ter como convidada especial a cantora e rabequista Renata Rosa num show realizado em São Paulo.
Foi um grande privilégio poder conhecer mais de perto o trabalho de excelência e de muita dedicação dessa grande artista brasileira.
GABC – Os fãs podem esperar por novas parcerias?
XN – Com certeza. Em 2018 anunciaremos novas parcerias com grandes artistas da música regional brasileira.
GABC – Como foi a atmosfera de tocar música nordestina fora do Brasil, por exemplo, na Turquia?
XN – Acreditamos que o forró, que tem sua origem no Nordeste, é acima de tudo brasileiro, e está presente em todos os estados brasileiros, de norte a sul.
A experiência de tocar na Turquia foi maravilhosa e gratificante.
Existe um público de forró em diversos países da Europa que frequenta as casas onde se toca esse estilo, e que acompanha os festivais espalhados pelo velho continente que há tantos anos ajudam a disseminar essa cultura brasileira de raiz.
Estamos planejando nossa primeira turnê na Europa para o segundo semestre de 2018, e assim poder conhecer e divulgar nosso trabalho também em outros países.
GABC – Além do primeiro álbum, o “Sertão Cigano”, vocês têm um disco autoral. Qual a essência desse trabalho?
XN – Gravamos no final de 2016 um disco ao vivo em um show totalmente autoral, realizado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
Tocamos algumas músicas do nosso primeiro disco “Sertão Cigano”, além de novas composições do grupo.
Procuramos nesse disco evidenciar ainda mais a confluência de xotes, baiões e xaxados com as escalas exóticas e ritmos do Oriente, num encontro musical que desperta para a grandeza e riqueza das culturas populares do mundo.
Para chegarmos nessa fusão convidamos grandes músicos da cena musical do país, como o renomado violinista Ricardo Herz, principal expoente do violino popular brasileiro; o sanfoneiro, educador e pesquisador, Gabriel Levy, o soprista Mário Aphonso III, referência na divulgação da música oriental no Brasil, e por fim, a Orkestra Bandida, que trabalha com música árabe e cigana.
O disco está pronto e deve chegar da fábrica ainda nesse mês [dezembro].
O show também foi filmado na íntegra e todas as músicas serão disponibilizadas em vídeos no canal do Xaxado Novo no YouTube.
GABC – O que o público pode esperar do Xaxado Novo para 2018?
XN – O público pode esperar um ano repleto de shows do Xaxado Novo por várias regiões do Brasil e por alguns países da Europa.
Esperamos poder continuar divulgando a música de raiz brasileira e o nosso trabalho, que procura dialogar sem preconceitos e sem fronteiras com a música de outros povos do mundo.
Serviço
Xaxado Novo
Data: 15 de dezembro de 2017 (sexta-feira) – 21h
Local: Sesc Santo André – Palco da Comedoria (Rua Tamarutaca, 302 – Vila Guiomar – Santo André – SP)
Ingresso: grátis
Classificação: livre
Informações: (11) 4469-1200/ 4469-1311
Os materiais de imagens e vídeos das pesquisas de campo do Xaxado Novo podem ser encontrados no site, na página do Facebook e no canal do grupo no Youtube.